quarta-feira, 21 de outubro de 2009

FHC, O INTELECTUAL E A MACONHA

por Ipojuca Pontes

Fernando Henrique Cardoso: posição polêmica sobre drogas, mas coerente com
agenda de grupos internacionalistasAos 78 anos, a maioria dos quais vividos na
base do que o comediante italiano Totó chamou de “grandinare de brillante
chimico” (tradução possível: “cascata”, sinônimo de conversa fiada), Fernando
Henrique Cardoso vai ser a estrela de documentário nativo sobre a
descriminalização da maconha, cujo uso, ainda considerado crime no nosso código
penal (Lei 11343/2006), o ex-presidente tem como inimputável. Só como lembrete:
embora negue, FHC declarou em New York que fez uso da cannabis sativa, o nome
científico da velha “erva do diabo”.

Para voltar às manchetes, além das que já industrializa numa bulha de mentira
como o ex-pupilo Lula da Silva (usual devorador de bebidas destiladas e
fermentadas), FHC vem considerando, com energia que dá para desconfiar, o ato de
fumar maconha como um “problema de saúde pública” – o que significa encarar o
viciado não como contraventor, mas um enfermo a merecer cuidados especiais do
Estado. Em termos concretos, em vez dos rigores da lei a punir o consumidor,
principal sustentáculo do narcotráfico, seriam instituídas “políticas públicas”,
com a grana do contribuinte, para controlar, financiar, distribuir e tratar de
milhões de viciados em todo território nacional.

Projetemos aqui o quadro vivo, no futuro, mas já agora em andamento, do
desempenho de uma dessas “políticas públicas” do Estado-Babá no campo do
controle do vício, defendido por FHC: o dependente adulto (ou mesmo o pit-boy ou
o pivete desvalido), depois de puxar a erva para ficar “numa boa”, cai na
“pista” para “curtir o barato”. Como o dependente, de um modo geral, não é nem
de longe o “bom selvagem” de Rousseau, na sua “curtição” pelas ruas ele tanto
pode cair na exaustão e puxar um ronco quanto – o mais rotineiro – assaltar ou
trucidar o próximo, para arrancar “algum”, se possível sem deixar vestígios.

Mais tarde, torrada a grana da vítima, mas sem ânimo (ou chance) para cometer um
outro achaque, o viciado, com a carteirinha do PAD (“Plano de Apoio ao Drogado)”
em mãos, passa no “posto oficial de saúde” para receber assistência psicológica,
doses homeopáticas de conselhos fraternais e, como tratamento químico
complementar, a cota de maconha ou de outra droga considerada ilícita – o que na
certa o conduzirá a novos crimes, pois o viciado, com ou sem tratamento, “sempre
quer mais, e em maior escala” (Charcot, “Les maladies du Système Nerveux”).

No seu universo vocabular pedante, FHC classifica a prática acima descrita como
“política de diminuição de dano” – artifício de linguagem na certa criado nos
intestinos do “Diálogo Interamericano”, a entidade dos socialistas fabianos. Só
para refrescar a cabeça do leitor: o DI, que tem em FHC um agente ativo, é uma
organização globalista financiada pela Fundação Rockefeller, cujos objetivos
básicos são, entre outros, 1) debilitar as Forças Armadas da América Latina, 2)
promover a substituição do aparato estatal pelas ONGs esquerdistas (“sociedades
de redes”) e 3) liberar o uso da droga ilícita, a maconha incluída.

Antes de dar tratos à bola, convém repassar alguns dados sobre o negócio da
droga no Brasil: segundo relatório do “Escritório das Nações Unidas contra a
Droga e Crime” (UNOFC), cerca de 80% do contrabando de armas, tráfico de
mulheres e crianças, assaltos à mão armada, sequestros, estupros, roubos e
crimes de morte por execução violenta ocorridos em solo pátrio estão de algum
modo ligados ao narcotráfico. Por sua vez, o citado relatório informa que em
2008 prevaleceu no país a supremacia do consumo da maconha sobre a cocaína, a
primeira abrangendo universo de prováveis nove milhões de usuários e a segunda,
mais cara, somando cerca de 870 mil dependentes.

Para o UNOFC, cujos dados são avaliados sempre para menos, o comércio da droga
em escala mundial rendeu na temporada alguma coisa em torno de 400 bilhões de
dólares. Segundo o relatório, o narcotráfico teria lucrado muito mais não fosse
a “guerra total” de repressão às drogas empreendida pelos americanos, não só
contra a produção, mas o seu consumo. As razões apontadas para a expansão do uso
da droga nos últimos dois anos dizem respeito não ao fracasso da ação
repressiva, mas a dois fatores considerados “decisivos” para que isso ocorresse:
a qualidade do produto, de maior “pureza”, e a forçada queda no preço da
cocaína, uma bem-sucedida estratégia dos traficantes levada adiante para a
melhor oferta no mercado internacional.

Voltemos ao “cascateio” de FHC: em recente entrevista concedida à “Veja”
(23/09/2009), o presidente de honra do PSDB se apresenta como o paladino da
liberação da maconha em solo pátrio. Depois de tecer considerações negativas
sobre o conceito de “guerra total” às drogas, defende a tese de que “o usuário
da droga deve ser visto como um problema médico e o traficante como bandido” –
uma mistificação inapelável, óbvio, visto que o traficante não pode existir sem
a grana do consumidor – tipo já classificado em estudos críticos como tendente
ao “parasitismo social e à criminalidade”.

Na entrevista, pretendendo mudar o “paradigma” da abordagem convencional, o
venturoso acadêmico puxa a brasa para a própria sardinha e dá a fórmula para se
enfrentar a questão da droga. Diz ele: “Em vez de concentrar esforços na
repressão, você poupa os recursos existentes para as campanhas educacionais e
para a busca da redução do consumo”.

Bonito, é. Mas, bem examinada, há nesta fórmula a contradição enfrentada pela
cobra de duas cabeças: na prática, enquanto o governo torra a grana do
contribuinte em campanhas educativas em geral inócuas, na mídia, nos colégios e
universidades, professores e intelectuais engajados mostram-se tolerantes (ou
quando não coniventes) com o uso da droga, muitos deles – como FHC e o seu
Diálogo Interamericano, por exemplo – empenhados na campanha aberta pela sua
liberação.

Neste sentido, convém lembrar que a expansão em massa do uso da droga nos
colégios e universidades se deu a partir da ação dos pensadores da Escola de
Frankfurt, vivendo nos Estados Unidos, no início dos anos 1960. Um deles,
Herbert Marcuse, juntando Freud à Marx em “Eros e a Civilização” (a “Bíblia dos
drogados”), promovia entre estudantes da Universidade de Berkeley, na
Califórnia, o consumo da droga como “ato político” e instrumento da
“contracultura” – vale dizer, contra os valores da civilização ocidental.

Levando adiante o seu discurso insensato na defesa do maconheiro, FHC
radicaliza: “Mas não adianta a repressão ser dura com o consumidor. Se você o
colocar na cadeia, ele vai continuar fumando, só pagará um preço maior por
isso”. Bem, pergunto eu: e daí? Vai se deixar o viciado nas ruas, como de resto
já está se deixando, para exercer livremente a sua criminalidade potencial?
Neste caso, quem se responsabiliza pelas 50 mil mortes anuais provocadas pelo
uso e tráfico da maconha, cocaína, crack e ecstasy no País? Os intelectuais
revolucionários? Os legisladores engajados? Os professores permissivos?

Na defesa da descriminalização da maconha, o paladino do DI adota tom
escorregadio, na base do “sim, mas...”, e cita como exemplo o caso de Portugal,
que, em 2008, liberou em pequena quantidade o uso da droga ilícita e, segundo se
diz, viu o seu consumo diminuir em 10%. Os dados de Portugal, que é um país de
apenas dez milhões de habitantes, são recentes e na verdade ainda não permitem
um exame acurado da questão. Mas, a persistir a experiência atual, como será a
vida em Portugal nos próximos dez anos?

Por outro lado, perito na desconversa, FHC não aprofunda a discussão. Por
exemplo, não menciona os dados estatísticos da Holanda, país que liberou o uso
da droga em 1976 e viu o seu consumo aumentar em 400%. Nem se reporta ao caso da
Bélgica que, depois de liberar o uso da droga, teve de recuar e adotar severas
medidas contra o seu consumo, tão logo a população indignada saiu de casa e, no
que se chamou a “Batalha de Bruxelas”, tratou de expulsar os viciados das ruas
da cidade.

E tampouco revela que por trás do negócio bilionário do narcotráfico se esconde
a ação revolucionária das FARCs sob a guarda dos integrantes do Foro de São
Paulo, a entidade supranacional fundada por Lula da Silva e Fidel Castro, que
tem por objetivo impor o socialismo na América Latina.

Pior ainda: sequer questiona a denúncia do GAO (Government Accoutability
Office), a auditoria geral do Congresso americano que associa atos como o da
“materialização” do deposto Zelaya na Embaixada do Brasil, em Tegucigalpa, ao
projeto de Chávez e das FARCs (quem sabe monitorados por Marco Aurélio Garcia,
o executivo do FSP e assessor de Lula para “assuntos revolucionários”) de
fazerem de Honduras um posto avançado para a melhor distribuição da cocaína nos
EUA – o que faz sentido.

No final do “show” das Páginas Amarelas, FHC se atribui o direito de achar-se um
homem superior, em contraposição ao “homem comum”. Ao ser indagado se o seu
partido compartilharia de suas opiniões, ele blasona: “A maioria do PSDB pensa
como o homem comum – e o homem comum tem horror de pensar nesse assunto
(liberação da droga). Mas (...) ou se toma consciência de que temos de fazer
algo diferente de que temos feito, sem covardia e sem leniência, ou seremos
irresponsáveis. Alguém tem de ter coragem de dizer essas coisas”.

Ao refletir sobre o receituário de FHC relacionado à maconha, tive um agudo
sentimento de horror. Palavra de honra! – nunca vi tanta degradação moral saída
da boca de um intelectual laico, e olha que sou um expert em ler todo tipo de
estupidez. Como pode o sujeito que já foi presidente da República duas vezes,
conhecendo os males humanos e sociais provocados pela droga, defender o seu
consumo com argumentos tão falaciosos? Nem mesmo a irracional vontade “marxiana”
de destruir a “sociedade burguesa” serve como justificativa.

Talvez seja por causa de tais opiniões que grande parte da população brasileira
manifesta o maior desprezo pelos seus intelectuais, especialmente os que se
acham no direito de ditar regras e formar juízos, pessoas que, se nas suas vidas
privadas são capazes das piores vilanias, em público, falando ou escrevendo, têm
a pretensão soberba de conduzir os destinos da humanidade.

Claro, o “homem comum” está coberto de razão: é preciso cada vez mais olhar esse
tipo gente com muita cautela, sobretudo no que diz respeito aos seus
diagnósticos em matéria de cultura, moral e política, pois, o mais das vezes,
quando o intelectual salvacionista resolve “fazer algo diferente do que temos
feito”, ficamos sempre à mercê das maiores desgraças e dos piores crimes.
Que o digam Lenin, Stalin, Hitler, Mussolini, Mao, Che e Fidel, todos aplicados
idealizadores de monstruosas experiências de engenharia social.

Fonte: site midia@mais

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