quarta-feira, 17 de agosto de 2011

REBANHO TOSQUIADO

Por Arlindo Montenegro
 
Qualquer pessoa mentalmente sã, em qualquer parte do mundo, aspira viver a vida produzindo, aprendendo, relacionando-se e celebrando pacificamente. Estamos vivendo um momento de consciência crescente em relação ao papel do estado e sobre o medo que utiliza e fomenta, para submeter os comuns. O medo, o maior aliado das formas de tirania implícita ou explicita.

Dá pra acreditar que o cristianismo seja responsável pelos horrores infligidos em seu nome - cruzadas, inquisição, abuso de crianças confiadas a padres, aniquilação da fé, aniquilação de “infiéis”, violando a regra “Não matarás”? Dá pra acreditar que tudo isto não decorre das práticas políticas e crenças impostas pelo estado do Vaticano? Ou serão somente uns poucos homens maus infiltrados trabalhando contra a fé cristã? A cristandade original é tão primitiva como os apologistas pregam?

Se as religiões à frente da condução política das nações favorecessem a liberdade e progresso dos povos, os países islâmicos governados por aiatolás seriam mais prósperos que os países cristãos. A crença utilizada pelos religiosos no controle de qualquer estado, acaba como escudo para justificar as guerras, inquisições e o terrorismo abrindo um fosso entre o que as gentes aspiram (liberdade consciente ou inconsciente) e o que o estado defende bem armado: poder, controle total.

Para as modernas religiões que se autodenominam cristãs, tudo quanto as gentes pensam ou fazem, inseridas em suas culturas e ambientes tradicionais, nada vale, porque fora da crença em Cristo não há salvação. Com a interpretação literal do que está escrito, a maioria das gentes está danada. Será mesmo que somente as boas ações dos que são “bons cristãos” valem aos olhos de Deus? E dos budistas, e dos hindus, e dos que se dizem incréus?

Parece até que o terror além de político e psicológico assume agora características de terror espiritual. Parece até que a evolução da civilização está condicionada ao jogo do poder que tem como arma de persuasão a força bruta. O que se tem apreciado na história é que as sociedades “mais fortes”, são aquelas que manejam os instintos mais selvagens e utilizam as armas mais destrutivas.

Agora virou notícia (pouco divulgada) a perseguição aos grupos cristãos que vivem em áreas onde a concepção de Deus é diferente. Mas a perseguição aos hereges não está inserida na história tradicional cristã. Continuamos usando dois pesos e duas medidas. Continuamos separando a matéria do espírito. E assim justificamos a ação dos estados totalitários que eliminam opositores, gente cujo contágio pode atingir mais pessoas, perturbando a ordem do caos.

Os cristianismos de qualquer face condenam os não cristãos. Os políticos de qualquer ideologia ou fanatismo, idem, em relação aos opositores. Será heresia pensar que o que uns e outros pensam e as razões que os motivam sejam de uma mesma fonte de águas poluídas resultante de desvios do curso natural? De ideais corrompidos e que se apresentam como verdades apenas para manter o poder e controle sobre corpos e mentes?

O dualismo explorado pelos poderes públicos, está presente nas práticas dos fundamentalistas islâmicos, nas práticas cristãs e nas várias versões da bíblia. É o que tem sido ensinado e repetido através dos milênios. O mundo está dividido entre Deus e o Diabo, entre os que defendem a civilização e os militantes políticos que praticam o terrorismo mais violento, impunemente. Conflito espiritual de um lado e competição material do outro.

Há uma estreita conexão entre o terror e o discurso político, mais ainda quando se contempla o cinismo da informação disponibilizada nos meios de informação, onde os bandidos aparecem como mocinhos se estiverem alinhados às políticas do estado. O resto é bandido ou condenado e responsabilizado pela insuficiência produtiva do estado que se proclama defensor do bem comum.

Enquanto isto, pela televisão nos chega a fala dos poderosos que vivem longe das realidades corriqueiras dos que pagam as contas, referindo o colapso da economia dos EUA onde se praticava o liberalismo econômico mais radical. Onde as liberdades individuais eram respeitadas. Até a estátua simbólica vai ser reformada. E os investidores apoiados na rede bancária internacional sedenta da riqueza que a gente gera em países como o nosso, garantem que por aqui a porrada vai ser leve.

Ora viva! Os nossos dirigentes vão ganhar mais poder enquanto os banqueiros agem como bons moços, para manter as contas dos usuários que pagam tudo no cartão de crédito, que pagam os juros mais elevados do planeta, sem protesto. Assim seremos mantidos no redil para ser tosquiados pela nova ordem mundial.

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