quinta-feira, 31 de julho de 2014

VERDADES ALUCINADAS

As novas velhas notícias chegam  todos os dias com a cara esticada e o nariz arrebitado de quem, para ter melhor aparência passou por cirurgia plástica. As velhas notícias tentam convencer-nos de sua juventude, de que vivemos em ambientes ainda não provados, desafiadores, exigindo soluções diferenciadas.

Continuamos esperando e pagando alto para que as leis restritivas sejam substituídas por outras, realizando o oásis onde a humanidade vai aliviar a sêde e a fome, dançar em roda da fogueira sob a cobertura de um céu estrelado,realizando um ou outro mínimo ideal.

O homem comprou o pedaço de terra com muito esforço. Pensava que ali poderia, ao "abrigo inviolável" das leis que protegem o indivíduo, fazer tudo para .plantar e colher, criar e educar os filhos, envelhecer e morrer com o sentimento de dever cumprido.

Mas a Lei disse: "Não pode desmatar, Não pode usar a água da mina sem pagar ao Estado, Não pode produzir sementes para a lavoura, Não pode  atrasar no pagamento de impostos...Nem  contar com a ajuda dos filhos no seu trabalho, Nem pode educar, nem castigar O Estado os fará cidadãos melhores...

Naquele instante pensou que estava sendo qualificado como um cidadão pior, incapaz de cuidar da própria vida e conduzir sua família para harmonizar-se com outras famílias, contribuindo com o exemplo e o mérito na construção de uma sociedade, uma nação, uma pátria. Concluiu que era mesmo um besta, um idiota pensando que as promessas do Estado eram verdadeiras.

E ficou por ali pensando numa solução para apaziguar as contradições do espírito. Tomou um café, fumou mais um cigarro, acariciou os cabelos da mulher que colhia verduras na horta com ajuda da filha e foi até o ponto mais alto da propriedade de onde podia avistar o mundo cheio de montanhas. Sabia que depois das montanhas havia o mar e depois do mar o mais além. Tudo contido no espaço infinito.

O filho mais velho, atendendo ao chamado da Lei fora recrutado pelo serviço militar obrigatório. Mandaram-no para uma missão "de paz" num país africano, além do mar, onde por dever de ofício e treinamento específico, tinha de matar outros jovens, em nome da paz. Num entrevero foi atingido mortalmente. Restou a lembrança do sorriso saudável. das risadas contando os causos e os acordes do violão que aguardava o dono, coberto de poeira.

Mas sua tristeza teve continuidade com o filho do meio que, no grupo de amigos adolescentes da escola, conheceu as drogas, tornou-se agressivo e um dia qualquer não voltou para casa. A polícia foi avisada sobre o menor desaparecido. E o delegado falou que bom mesmo era rezar. Teria sorte se o menino fosse encontrado.

Respirou fundo e voltou para a casa. Seus miolos ferviam e as árvores estavam florescendo para alegria da passarada. Na mesa de estudos da filha estavam os livros e uma caixinha com dizeres  "Saúde sexual". Abriu a caixa e viu o penis de borracha enfiado num preservativo. Num caderninho impresso e colorido ele começou a ler as instruções sobre o uso de drogas injetáveis, os cuidados para cheirar cocaína...

O coração apertado e o amargo que tornava a saliva semelhante a fel, as mãos e as pernas tremendo, chorou e imaginou-se de repente como Davi diante de Golias, o Estado gigante. Tomou a caixa, os objetos e o caderninho e  foi direto para a cozinha onde o fogo de lenha  ganhou uma labareda colorida e uma fumaça negra e fedorenta.

Na hora do almoço, tinha tomado a decisão: -De hoje em diante você não vai mais para a escola. Vou ser professor aqui em casa.
- Mas pai... Aquilo é um programa do governo, do ministério da educação, da ONU...


- A ONU já matou seu irmão e agora quer ensinar você a usar drogas... Basta o outro, que sumiu. Quer saber de uma coisa? Quero que o governo, o ministério e a ONU vão todos à merda!

No mesmo instante, como em resposta um passarinho de peito amarelo abriu o bico e começou a cantar: Bem te vi! Bem te vi!

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